ReCriar Novas Possibilidades
- Rodrigo Wentzcovitch
- 1 de jun. de 2022
- 2 min de leitura

No inicio não havia nada e tudo não passava de uma folha em branco, um vazio sem ordem ou direção que se estendia por todo o horizonte. É quando então nos deparamos com esta mesma folha, e passamos a preencher estes espaços, fornecendo uma forma que vai ganhando substância. O Oleiro estrai sua matéria prima a partir do barro, e dá-lhe uma forma, um vaso ou um jarro, porém sua utilidade não se encontra na forma que ocupa, mas em seu centro, no espaço vazio que serão preenchidos, com a água capaz de matar a sede, daquele que tem sede por saber. Certa vez ouvi dizer que a musica era formada por espaços vazios, ou melhor por intervalos de tempos que possibilitavam a harmonia das melodias tocadas. A Ciência nos diz que o Universo ou Cosmos é formado por espaços vazios e ainda os átomos que animam nossos corpos e tudo o que existe em matéria, também seriam compostos por veja só, espaços vazios. Dai me parece que todo o nosso terror advém destes espaços que não compreendemos muito bem, o qual apelidamos e atendem por Caos ou Desordem. O seu oposto complementar é a Ordem ou Cosmos, resultantes deste mesmos espaços, que vão sendo preenchidos, principalmente pelo fruto de nossas escolhas de vida. Assim todo ato criativo surge primeiramente desta atividade absorta em pleno Caos, do contato do Artista com a sua Obra. Prova disto é uma passagem interessante de Michelangelo, onde o mesmo narra sua observação sobre um bloco de granito indiferenciado de mármore, igual a qualquer outro, porém ao visualizá-lo viu ali possibilidades, viu um Davi que de tão perfeito, precisava apenas retirar-lhe as arestas da pedra, revelando aquilo que já existia em potencial, aquilo que estava encoberto por detrás da matéria bruta. Assim desta transformação é que nossas vidas são moldadas ou forjadas, a partir do mergulho no Caos, de onde saímos com uma nova ordem de possibilidades. Este é o Artista que se vê moldando o futuro, criando novas realidades até então não existentes. O trabalho que toma para si é o de re-criar a experiência que temos de co-habitarmos um Cosmos, que só pode ganhar forma a partir da imersão no Caos, que ao mesmo tempo se mostra rica em possibilidades de múltiplas existências possíveis.
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